domingo, 23 de setembro de 2007

Tropa DA elite ou Matou na favela e foi ao cinema



“Homem de preto,
qual é sua missão?
É invadir favela
E deixar corpo no chão.”

Esse “canto de guerra” é um dos muitos entoados pelo BOPE (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar) nos seus treinamentos. Muito significativo e direto, já que mostra claramente onde se localizam os inimigos a serem abatidos. Trata-se de uma guerra contra os pobres, recrudescida em tempos neoliberais nos quais a contrapartida da criação de uma sociedade do desemprego é a necessidade das classes dominantes ampliarem não somente os meios para obtenção do consenso, mas também os instrumentos coercitivos que mantenham os oprimidos sob controle.
Em meio às crescentes denúncias contra a atuação do BOPE nas favelas cariocas, que se pauta por uma política deliberada de extermínio ao arrepio do Estado de direito, surgem nas ruas da cidade cópias do filme Tropa de elite, antes mesmo de seu lançamento no cinema, previsto para o mês de outubro. Tropa de elite já é um sucesso de público, está “na boca do povo”, fascina adolescentes e mesmo crianças de classe média, e reúne no orkut uma comunidade com mais de 55 mil membros. Virou também assunto da imprensa, devido ao suposto vazamento da cópia não autorizada, que acarretou processos e ameaças de prisão dos envolvidos.
Com produção no estilo hollywoodiano, o filme tem como ponto de partida o livro Elite da tropa, escrito pelo sociólogo e ex-subsecretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro Luiz Eduardo Soares, pelo capitão do BOPE André Batista (negociador no seqüestro do ônibus 174) e por Rodrigo Pimentel, ex-capitão do BOPE. Mas não reproduz fielmente nas telas as histórias nele contadas. O personagem central nessa articulação é Rodrigo Pimentel, um dos roteiristas do filme. Pimentel foi “descoberto” no documentário Notícias de uma guerra particular, de 1997, dirigido por João Moreira Salles e Kátia Lund e forneceu o mote do título do filme, enunciando uma tese que vem ganhando fôlego e pautando as políticas de segurança pública do Estado: vivemos num estado de guerra entre, de um lado, o Estado e os “cidadãos de bem” e, de outro, os bandidos/traficantes. E não se trata de qualquer guerra. Mas sim de uma guerra total que, nos moldes da “guerra ao terror” empreendida por Bush, justifica a suspensão dos direitos humanos e legitima práticas ilegais como torturas e execuções sumárias com base na idéia de que elas são necessárias para garantir a segurança pública. É preciso lembrar ainda que argumento semelhante foi amplamente utilizado, na história recente do país, para justificar os arbítrios cometidos pelo Estado durante a ditadura militar. No caso do filme, é o narrador, capitão Nascimento, que afirma: “se o BOPE não existisse, os traficantes já teriam tomado a cidade há muito tempo”. Nessa lógica de um tudo ou nada distorcido, quem defende direitos humanos, defende os bandidos e é cúmplice da violência urbana que assola a cidade.
Cúmplices são também os que consomem as drogas ilícitas vendidas nas favelas. O tráfico de armas (e a indústria bélica que dele se beneficia), as ligações extra-favela do tráfico que, como todos sabem, atingem autoridades que organizam de fato as redes do crime, cujo elo mais fraco são os “vagabundos” assassinados cotidianamente pelo Estado, não são levados em conta nesse argumento. Numa das cenas mais chocantes do filme, capitão Nascimento, após comandar uma ação que resulta na morte de um traficante, esfrega o rosto de um estudante, que estava na favela consumindo drogas, em cima do sangue que sai do buraco aberto pela bala no peito do jovem morto e pergunta se ele sabia quem havia matado o rapaz. O estudante diz que foi um dos policiais, ao que Nascimento responde: “um de vocês é o caralho! Quem matou esse cara aqui foi você. Seu viado, seu maconheiro, é você quem financia essa merda. A gente sobe aqui pra desfazer a merda que vocês fazem.”
Portanto, coerção e consumo estão no centro das teses que organizam o filme.
Tropa de elite conta a história do drama privado do capitão Nascimento, significativo nome para um oficial “padrão” de uma polícia que tem como símbolo uma faca na caveira. Capitão Nascimento vai ser pai e o nascimento de seu filho o impulsiona a buscar um substituto no comando de uma guarnição do BOPE. Cansado da “guerra” cotidiana travada nas favelas cariocas, com síndrome do pânico e pressionado pela esposa grávida, Nascimento é um herói humanizado, um personagem complexo, ao mesmo tempo forte, incorruptível, carismático e também frágil, capaz de sentir remorsos pela morte de um menino fogueteiro, denominado por ele “sementinha do mal”, que resulta de uma operação sob seu comando.
Os candidatos a substituto de Nascimento são Neto e Matias, aspirantes a oficiais da polícia militar que se negam a participar dos esquemas de corrupção da corporação e, por conta disso, acabam se incorporando ao curso preparatório do BOPE. Neto é descrito como tendo a polícia no coração. Destemido e impulsivo, exímio atirador, gostava dos combates nas favelas e era o favorito de Nascimento. Seu amigo Matias, negro e de origem pobre, era mais racional, “gostava da lei” e se dividia entre ser estudante de direito da PUC e pertencer à polícia. Seguindo a classificação de Nascimento, os policiais cariocas só têm três alternativas: “ou se corrompem, ou se omitem ou vão para guerra”. Aprendizes de heróis, Neto e Matias só poderiam seguir a terceira opção.
Por conta da faculdade, Matias se envolve com uma menina de classe média alta que dirige uma ONG patrocinada por um político no Morro dos Prazeres e “fechada” com o chefe do tráfico na favela. A princípio, seus colegas da faculdade, ligados à ONG, não sabem que Matias é policial. Todos os estudantes são consumidores de drogas ilícitas. Um deles é “avião” e vende drogas na universidade.
Baiano, o chefe do tráfico na favela da ONG, assim como os colegas e a namorada de Matias descobrem que ele é policial através de uma foto que sai publicada nas páginas de um jornal. Esse fato desencadeia uma série de eventos que culminam na morte de Neto e na conversão definitiva de Matias em oficial do BOPE durante a caça a Baiano, motivada pela necessidade de vingar a morte do amigo. O policial que “gostava da lei” passa a torturar e executar, provando assim sua conversão de corpo e alma. O homem preto se torna homem de preto, “caveira, meu capitão”.
Nossos mariners tupiniquins são apresentados como soldados muito bem treinados, capazes de suportar um treinamento destinado a poucos, uma elite exemplar com um papel fundamental no estado de sítio em que vivemos: conter os pobres. Tropa de elite recolhendo corpos supérfluos daqueles que, em outros tempos, eram exército de reserva de mão-de-obra e que hoje, em meio ao desemprego estrutural e à ditadura do capital financeiro, são o lixo da sociedade.
A necessidade de conter (e mesmo eliminar) os pobres é o objetivo dessa guerra particular ou privada e, nesse contexto, uma tropa de elite se configura como uma tropa DA elite, necessária para garantir a ordem e o respeito à propriedade privada. Isso explica porque 100% das operações do BOPE são realizadas em favelas.
No filme, o discurso que legitima o BOPE e suas ações é persuasivo e se articula em três níveis. Num primeiro nível, o BOPE aparece como uma resposta à ineficiência e corrupção da “polícia convencional” e aos políticos que a alimentam. Assim, essa elite de policiais é apresentada como incorruptível e como um padrão a ser seguido, de referência internacional. O lema “faca na caveira e nada na carteira” resume esse discurso moralista e pragmático que atende perfeitamente aos apelos midiáticos por ordem e moralidade.
Um segundo nível pode ser identificado na apresentação do BOPE como uma seita que, através de um árduo rito de passagem – o curso de treinamento -, seleciona homens fortes, honestos e “formados na base da porrada”, preparados para resistir às piores provações. A seleção é a base da consolidação de uma camaradagem entre essa elite, em oposição àqueles que “nunca serão”, reatualizada nas práticas cotidianas de transgressão da lei. Numa das cenas do filme, um coronel e seus comandados, entre eles Nascimento, estão organizando as turmas do curso preparatório. Entre risadas e num clima descontraído, o coronel diz que não quer saber de tímpano perfurado em aula inaugural e de mão cortada. Mesma complacência para com os “excessos”, que afinal sempre podem ser “merecidos”, que ocorrem durante as operações nas favelas. Em tempos de fragmentação, individualismo e consumismo, podemos imaginar o apelo desse discurso que louva um corpo de homens unidos por um forte sentimento de pertencimento a uma elite e por um orgulho quase racial, seres superiores, elevados, em meio ao mundo de miséria, fraqueza e corrupção. Homens de caráter em tempos de corrosão do caráter.[1]
O terceiro nível desse discurso persuasivo é o do indivíduo, de seus dramas pessoais, que humaniza o herói e o aproxima dos seres humanos comuns, capazes de se reconhecerem e se identificarem com ele. Capitão Nascimento é o herói que sacrifica a vida pessoal e que não estende sua brutalização à vida privada. Como na cena em que ele, durante uma operação na favela, logo depois de se emocionar ao ouvir ao celular o coração do filho batendo na barriga da mãe, manda seu subordinado atirar dizendo: “senta o dedo nessa porra!”. Ou no momento em que, de farda, vindo da “guerra”, chora ao ver seu filho recém-nascido na maternidade. Nascimento trata sua mulher de forma amorosa e se sensibiliza com as pressões que ela faz para que ele saia do BOPE. Com exceção de uma cena, após a morte de Neto, a única em que ele aparece fardado no ambiente doméstico, na qual ele grita: “quem manda nessa porra aqui sou eu e você não vai mais abrir a boca para falar do meu batalhão nessa casa”. Significativamente, após impor seu comando em casa, ele fica curado dos ataques de pânico e joga fora os medicamentos psiquiátricos que estava usando.
Todos esses níveis se articulam em torno da naturalização da idéia de que vivemos num estado de exceção, uma situação atípica que demandaria regras também atípicas para sua solução. Essa naturalização permite um relativismo de valores e práticas, de direitos e garantias no que dizem respeito à dignidade da vida humana. Falar em direitos humanos não faz nenhum sentido num estado de coisas que institui valores desiguais para as vidas humanas de acordo com critérios como cor da pele, origem social e mesmo idade, já que os jovens pobres e negros são hoje as principais vítimas de homicídios, bem como formam a maioria da população carcerária do país.
No entanto, é preciso afirmar que o estado de exceção na verdade é a regra sob o capitalismo, que não pode prescindir, sobretudo em sociedades dramaticamente desiguais como a brasileira, do trato brutal com os de baixo.
Não há como não lembrar aqui de um poema escrito por Bertolt Brecht num contexto de vitória do fascismo na Europa, no qual outros homens de preto, em defesa da ordem do capital, esvaziaram de significado a palavra humanidade:

A exceção e a regra

Estranhem o que não for estranho.
Tomem por inexplicável o habitual.
Sintam-se perplexos ante o cotidiano.
Tratem de achar um remédio para o abuso.
Mas não se esqueçam de que o abuso é sempre a regra.



[1] Richard Sennet. A corrosão do caráter. Conseqüências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Rio de Janeiro, Record. 1999.


Adriana Facina (UFF/Observatório da Indústria Cultural)

Mardonio Barros(MST/Observatório da Indústria Cultural)

38 comentários:

Túlio Valente disse...

Não sei o que é mais imbecil: o filme ou essa "crítica"?

Anônimo disse...

Esse texto seria uma boa crítica do filme se não fosse o viés marxista. No lugar de "pobre" no texto, troquem por "criminosos armados" e a coisa muda de figura.
Traficante, seja pobre ou seja rico, tem que ser desarmado e, se resistir, tem que levar chumbo.

Unknown disse...

ISSO É QUE É BOTAR O DEDO NA FERIDA!

Henrique disse...

O mais imbecil disso tudo é a reação das pessoas. A reação das pessoas em relação ao filme e também aos que o criticam. Isso que assuta mais.

A parada transcende o que qualquer um quiser chamar de viés marxista, ou qualquer outra coisa que o valha.
A parada tá em humanidade.
E essa meu irmão, é sinceridade demais.
É poesia que não cabe em quem responde dessa forma.


* não acho que é simplesmente trocar pobre por criminosos armados. nesse caso se corrobora o que se está criticando.

Fazer uma afirmação hoje em dia é algo muito grave, é profundidade demais.
Não cabe em qualquer imbecilidade ou na isenção.

Fico feliz por ler críticas assim.

Abluê! disse...

Me pergunto qual é o problema exatamente do "viés marxista"?
enfim, deixando os idiotas de lado (cuja presença na verdade prova a eficácia do texto); acho que mandaram muito muito bem, especialmente no "A necessidade de conter (e mesmo eliminar) os pobres é o objetivo dessa guerra particular ou privada e, nesse contexto, uma tropa de elite se configura como uma tropa DA elite, necessária para garantir a ordem e o respeito à propriedade privada.".

Sobre o filme acho que a única coisa que salva é a estratégia de marketing extraordinária usando a "pirataria" ao seu favor. (o que na verdade é bem assustador)

Unknown disse...

Gostei do filme. É polêmico, trás a tona assuntos que são cotidianamente escondidos.

Quanto a polícia mostra tortura, mostra violência, mostra a inadequação total, seja de elite ou não, para atuar nas favelas.

Debate o quanto a universidade é retórica.

Mesmo de forma exteriotipada, retoma o debate de quanto os usuários de drogas, pegando em cheio a classe média, alimenta a violência nas favelas.

O texto é interessante, mesmo que eu divirja de certos pontos, mas é inteligente e tem como mérito dar continuidade sobre alguns temas tratados nos livro.

Por fim, gostaria de lembrar a perseguição feita no governo de Vargas, na década de 30, ao libanês Benjamin Abrahão, responsável por imagens de Virgulino Ferreira, o Lampião, quando vivia no sertão brasileiro. Mostrava um Lampião culto, maravilhado com modernidades como a máquina fotográfica e a garrafa térmica, tomando uísque e banhando-se em perfume francês, com o bando participando de em bailes no meio do sertão. Esta visão humanizada de Lampião foi vista como perigosa.

Até um torturador é humano, porém isso não redime seus crimes.

Unknown disse...

Gente não gostei do filme... mas acho que a crítica a respeito da "humanização" do capitão Nascimento é infundada... Afinal, ele vive uma realidade de extrema violência, de distorção de valores onde acima de tudo, ele acredita estar agindo de acordo com seus princípios e em pról da sociedade. Ele pode ser o monstro que for, mas isso não o impede de amar. Desde que ele considere certo e, principalmente, necessário o que faz, por que diabos iria sentir algum tipo de remorso?! Por isso tudo ele seria incapaz de chorar com o nascimento de seu filho? Decerto que não. Afinal, para tipos como ele, bandido não passa de barata... e quem sente remorso matando barata?

Rodrigo disse...

Quem compra drogas com traficantes financia tráfico sim! Portanto, uma discussão sobre legalização (não pra traficante vender legalizado, para comerciantes que não matam seus clientes e que pagam impostos vendam) viria a calhar. A cena que vc descreve como a mais chocante é porque a que mais incomoda a classe média/alta hipócrita (deixe eu me corrigir, incomoda OS hipócritas de classe média/alta). Mas concordo com vc em relação a suspenção dos direitos civis dos moradores da favela. A maioria dos que vivem na favela escolhem o caminho da legalidade, da batalha, uma pequena minoria escolhe o crime e cria um estigma para os que moram na favela

Beralzir disse...

Muito boa a crítica, mas não acho que está de todo correto. Não concordo que cite o pobre como o alvo do BOPE. O tráfico de drogas se dá nas favelas, que é formada por unanimidade pobre. O BOPE tem como principal objetivo travar essa batalha contra o tráfico de drogas e armas, e só ele tem a capacidade de entrar na favela e extinguir esse tipo de problema. Não pense que estou defendendo práticas anti humanitárias. Só que se for pra repreender quem não mora na favela (quem tem condições de não ser pobre) no caso de tráfico quem age normalmente é a policia federal.
Tenho um texto no meu blog (http://autoestradademaria.wordpress.com/2007/09/27/tropa-da-elite/) onde trato do mesmo assunto, e por coincidência o nome do texto é tropa DA elite. dá um pulo lá e lê. foi de um comentário desse meu post que eu vim parar aqui.

Anônimo disse...

Sra. Professora Doutora Adriana Facina,

Após ter lido seu artigo pode constatar que você poderia ser considerada uma excelente "resumidora de filmes". No entanto, tenho que fazer algumas ressalvas em relação às suas críticas de teor sociológico do alto de seu pedestal acadêmico.

Não acho correto você afirmar que a contrapartida da sociedade do desemprego estrutural é a repressão generalizada aos menos desfavorecidos.
Devemos lembrar que o crescimento das favelas se deu justamente devido à necessidade de uma população pobre residir próximo aos locais com oferta de emprego, portanto, por mais que fossem "subempregos", de alguma foram eles existiam. No contexto atual, concordo com você que vivemos um desemprego estrutural, mas devemos lembrar que uma das tendências do universo trabalhista carioca é o aumento de "empregos autônomos"(também subempregos ou bicos), que podem ter rendimentos iguais ou até maiores do que os empregos registrados oficialmente na grande maioria da população brasileira que é de 1 salário mínimo. Tal tipo de emprego não fica atrás em nada das outras modalidades de emprego formal em relação à segurança do trabalhador. Como argumenta o próprio Sennett no livro que você cita, no mundo atual temos que conviver com a insegurança endêmica quanto à permanência nos nossos empregos.
Feita esta observação, gostaria de argumentar que que por mais que haja a falta de emprego ou empregos incertos nada justifica a covardia dos traficantes quando os mesmo descem dos morros armados. (Você pode justificar se quiser usar uma dialética hegeliana do senhor e do escravo, e que o oprimido deseja oprimir, mas acredito que você tenha superado este tipo de pensamento simplista para pensar coisas mais complexas).
O simples fato de um adolescente receber uma arma concede-o poderes que mudam o caráter de uma pessoa. E esta pessoa começa a fazer covardias e maldade com a população de bem (e esta não é exclusivamente a classe alta). São trabalhadores nas favelas, que são duplamente oprimidos(pela polícia e pelo tráfico), os moradores dos subúrbios que também não são DA ELITE e que convivem com um medo ontológico constante proporcionado pelos "pobrezinhos armados". Enfim, nada justifica o fato da violência dos "pobrezinhos" que só tem uma pistola. A não ser que você ache que por causa da sua própria condição os mesmos são compelidos a cometer abusos e covardia.
Se fosse assim todo mundo que ficasse desempregado iria pegar em armas, assaltar e começar a traficar drogas.
Em suma, se você diz que na lógica do capital financeiro os "homens de preto" matam o lixo da sociedade, gostaria que você me provasse por esta mesma lógica que você professora universitária de história também não é um lixo social,ou um Homo Sacer para citar Agambem, porque do ponto de vista material você é um ser humano improdutivo, e que por isso o BOPE vai pegar sua alma. Então não use uma tipologia econômica pra justificar problemas de outra magnitude. Existe uma pequena diferença entre pessoas de bem e pessoas ruins o que não implica suas classes sociais.
Se você acha o contrário poderia me explicar porque a Índia com um nível de miséria maior que o do Brasil tem índices de homicídios tão baixos? Talvez porque lá não exista o BOPE ou porque na Índia ninguém é Homo Sacer?

Como última ressalva ao seu artigo, gostaria de atentar que o objetivo do BOPE não é a manutenção da ordem e do respeito à propriedade privada como você diz no 11º parágrafo do seu artigo (nunca ouvi falar de traficante revolucionário socialista-leninista, maoísta, trotskista, etc...) No máximo eles sabem o que é uma HK-47 (a famosa metralhadora soviética que não trava).
O BOPE trata de conter os crimes contra os mesmos direitos humanos, contra o estado de direito da população de bem que é morta em confronto entre facções rivais nas grandes periferias do Rio de Janeiro, que você dentro de seu gabinete universitário em Niterói não houve falar. Ou talvez quando ouça não escute e se debruce sobre o maravilhoso Brecht querendo fugir do horror do guerra e do caos urbano no Rio de Janeiro.

Um adendo para a professora de história moderna e contemporânea é que o fascismo nasce enquanto proposta política bem definida num contexto de crise do desenvolvimentismo liberal capitalista,e em oposição ao socialismo bolchevique. No dia que o BOPE criar um partido no Congresso aí eu temerei-os, do contrário eu temo pessoas como você que são enquadradas como a "elite intelectual" do país que formam as novas gerações de historiadores com visões tão empobrecidas da realidade que nos cercam.

Anônimo disse...

Chato.

Anônimo disse...

Esta crítica é exelente. Deve ser amplamente divulgada contra este filmezinho fascista.

Demian

Anônimo disse...

A crítica é de uma ingenuidade tocante - bom, mas o que esperar de um blog que se proclama um observatório da indústria cultural?

Antes de mais nada queria dizer que eu não sou adepto da política do "bandido bom é bandido morto" nem muito menos acredito que a defesa dos direitos humanos é um luxo no "estado de exceção" em que vivemos. Isto posto, vamos aos pontos.

Em primeiro lugar, partindo de pressuposto de que a senhora trabalha a cultura sob um viés materialista, não seria muito mais interessante entender o filme não como reflexo, nem mesmo como esfera autônoma que “influencia”, mas como parte constituinte da sociedade, dialeticamente integrado a esta? Nesse sentido, ele não legitima uma política e uma prática, mas é parte dessa sociedade. Ele não é feito para. Foi feito de. Um ponto interessante é pensar por que a platéia aplaude e se identifica. O buraco é muito mais embaixo.

Seu argumento me lembra o de intelectuais que condenam filmes como Matrix ou vídeo games violentos como os responsáveis pelo fato de estudantes estadunidenses entrarem atirando em universidades e escolas. Os filmes e vídeo games são a sociedade. Também. Não somente, mas também - bom, eu não deveria explicar isso para uma marxista, mas...pobre Marx...deve estar a se revirar no túmulo, bem que ele dizia que não era marxista. Agora eu entendo porquê.

Em segundo lugar lembro-a de que uma das estratégias da indústria cultural é justamente causar impacto através do sensacionalismo. É óbvio que o filme traria mais evidente esses aspecto em relação ao livro - como se fosse possível comparar livros e filmes. Não entendi a crítica ao fato de que o policial Nascimento fosse denso e complexo. Por acaso PMs não podem ser complexos? Só os intelectuais são complexos? Só a esquerda é complexa? A direita é sempre chapada e homogênea?

Em terceiro lugar, acho que esse filme irritou a Zona Sul por mostrar a conivência de playboizinhos que consomem maconha com o tráfico. É óbvio que dizer que quem consome financia é de uma ingenuidade tão grande quanto dizer que ele não financia de maneira alguma. O consumidor é apenas uma das pontas dessa cadeia. Mas que é responsável é. Claro. Mas é melhor ser a professora legal que defende os alunos que fumam maconha – grande maioria num departamento de história -, né? Dá mais ipobe.

Em quarto lugar, a sua crítica cai numa idealização do pobre enquanto vítima e da PM enquanto bandido, enquanto a realidade é muito mais complexa - é eu sei, pensar as sutilezas dá trabalho, né? Muito mais fácil ver as coisas de maneira chapada. Esquerda = pobre = bom; direita = elite = mau.

Não vou nem entrar no questionamento de por que o tal “estilo hollywoodyano” virou defeito. Talvez por isso a esquerda nunca consiga nada. Porque acha que o pobre gosta de miséria, de coisa feia e mal feita.

Todos os seus argumentos podem fazer sucesso dentre estudantes de graduação. Mas quando a coisa é debatida em um nível mais profundo, é muito mais complexo. E, repito, complexidade dá trabalho, né? Pressupõe estudo.

Parafraseando o velho ditado, a senhora só conseguiu com essa crítica ser “mais idealista que Hegel”.

Pobre Marx...

Anônimo disse...

Em que momento o filme humaniza ou legitima o BOPE? Melhor aprender interpretação de texto antes de escrever críticas de cinema.
A "crítica" não é do filme, mas sim da atuação do BOPE nas favelas do Rio. Sob esse aspecto, legal, a argumentação é fundamentada.

Anônimo disse...

Evidentemente o foco narrativo do filme é baseado na visão do próprio BOPE. Sendo assim, não poderia expressar uma visão crítica e distanciada sobre a atuação deste. Agora, a questão da escolha desse recurso narrativo específico, uma vez que não é exatamente assim no livro é que revela uma determinada visão de mundo de quem fez o filme. Quanto ao que diz antônio sobre o filme ser produto desta sociedade criticada no comentário, é bom lembrar que, se é para ser dialético, a arte seria produto e produtora dessa realidade. Portanto, se o filme reflete por um lado, por outro reforça tais ideologias.

X disse...

Sem entrar no m�rito de se o filme faz ou n�o uma apologia das pr�ticas violentas da pol�cia carioca, vale a pena dar uma lida nas recentes declara�es do diretor, que contradiz tudo o que essa resenha afirma.

Anônimo disse...

Comentário


pelo menos, pelo menos... A primeira parte

já foi alcançada, né? O debate foi estabelecido, críticas e argumentações fervorosas.




Agora é questão de não ficarmos dando murro em ponta de faca e, principalmente, não mantermos o nosso pensamento estreito e simplista, atentando para as contradições que comentários levianos podem nos levar.




Por favor, vamos bater boca mesmo. Mas, por favor também, análise concreta da realidade concreta coerente e interrelacionada. Um exemplo do que quero dizer nesse parágrafo versa sobre a cena onde o Capitão Nascimento diz que foi um usuário quem matou um soldado do tráfico após este ter morrido com tiro e o capitão ter esfregado a cara do usuário no buraco que a bala causou.




O filme diz que é o usuário quem sustenta o tráfico e todas as atrocidades relacionadas a ele. Mas por que a lógica do consumo deve ser evocada superficialmente para explicar? O que aconteceria se extenderssemos o argumento da lógica do consumo para além desse contexto, hein? O que leva o traficante a vender drogas. Ao vender drogas, o traficante não está incluso na lógica do consumo? A melhor solução seria deixar de consumir ou mudar a lógica consumista, exaltada quando se trata do mercado capitalista e demonizada quando se trata de mercados marginais, como também o mercado "alternativo", ou melhor entendido: pirata. Afinal, o individualismo burguês inculcou, ao longo de anos, que a solução vem individualmente, e os desvios são anomalias também individuais, pois muitos são pobres (pobres, sim, e pq não, pois vi gente reclamando de chamar "bandido" de "pobre") e vivem "dignamente", de maneira "honrada". Sabe aquele lema: "sou pobre mas sou honesto"? É minha gente, em que lugar social que "desvios" são tolerados? Encerrarei minha mostração de cara para o primeiro tapa com uma das famosas máximas do Aparício Torelly, o Barão de Itararé, humorista como há muito não vemos e de que tanto necessitamos: Cleptomaníaco: Ladrão rico/ Gatuno: cleptomaníaco pobre. E uma outra máxima do Barão, essa vai para o BOPE: “entre sem bater”.




Bruno

Anônimo disse...

Facina,

Não posso desmerecer o texto, toda iniciativa é válida. Como dizem os antigos, "tudo vale a pena quando a alma não é pequena". Veja bem, a uma grande dificuldade para nós, estudantes de história. Dificuldade essa que se traduz na distância absurda entre a teoria e a prática cotidiana. Isso torna mais fácil estabelecer conexões várias, principalmente no caso de nosso tão desvalido país, onde dificilmente podemos localizar bandidos e mocinhos. Até no nosso Senado tem grandes adeptos da bandidagem. Acredito que, muitas vezes, é necessário observarmos a realidade um pouco mais de perto. Isso, um pouco mais perto. Principalmente quando se trata da pseudo-elite revolucionária-marxista-de- gabinete-uffiana. Creio que seja um pouco mais fácil olhar o mundo das altas janelas dos prédios de Icaraí . Eu, que moro no subúrbio, próximo ao morro, peço-lhe: visite uma favela. Viva essa realidade. Assim, você saberá que as coisas não são tão diferentes do filme (sem que com isso eu esteja fazendo uma defesa do filme). Aquele que segura uma arma, seja rico ou pobre, está preparado pra matar: seja ele culpado ou inocente. E, isso, para ambos os lados. A guerra contra o tráfico que acaba incluindo um terror constante a população das favelas, que não tem nada a ver com isso, também gera mortes "no asfalto"... e aqui, não somos elite... não moramos em Icaraí ou nos bairros da zona sul.

Anônimo disse...

Olá "O exterminador do futuro"
Vejo muitas semelhanças em seu discurso e no Matias, quando ele falava na sala de aula sobre a necessidade de reprimir. Pelo que vejo você vai no mesmo caminho , espero que não tenha as mesmas condições de deflagrar uma luta contra os pobres. Acredito que a critica ao filme feito pelos autores, é muito pertinente, mas a sua não passa de uma visão conservadora, que tenta se mostrar em dialogo com a realidade. O
Fascismo, corrente da qual vc deve fazer parte, sempre quis se confundir com o marxismo, mas no fundo não passa de uma teoria pragmática e reacionária. De que lugar vc fala? Duvido que seja de uma favela. Deve estar do mesmo lado dos muitos capitães nascimento que existem no RJ, e da elite reacionária que tem medo/nojo dos pobres.

Unknown disse...

Esse esquerdismo deve ter sentido mesmo a alfinetada do filme. Todo mundo indignado querendo defender os estudantes "tão inocentes" que "não financiam o tráfico comprando maconha de traficante".

Apesar de não concordar com a tortura executada pelos soldados do BOPE, acho muito válida a perspectiva de que esses homens vivem numa guerra. Os números da violência não negam. E os pobres que moram nas favelas são os que mais sofrem, já que apanham tanto da polícia como do tráfico.

Muito já foi escrito acima e não vale a pena me repetir. O filme possui momentos de ironia fantásticos. Como o estudante maconheiro que era o responsável direto pela morte dos colegas (e do policial) numa passeata protestando contra a violência que ele próprio causou.

Faça-me o favor!

Anônimo disse...

Se acreditarmos que os traficantes, usuários, etc. devem morrer, estamos concordando com a pena de morte (ilegal) que de certo modo, está em prática em nosso país. Acreditamos também que o policial tem o direito de decidir sobre a vida dos seus acusados. Os capitães Nascimento da vida devem decidir se as pessoas devem viver ou morrer. Fico pensando o que há além do traficante de drogas. Qual o papel da indústria Bélica? A violência é praticada apenas pelo trafico? E as milícias, o que justifica? Contra quem elas lutam? Onde elas estão? Qual a porcentagem de pessoas das áreas populares envolvidas no crime? São todos? Ou é uma parcela muito pequena? Quem mais morre de crimes violentos neste país? Qual a cor? Origem social? Sexo? Idade? O certo é eliminar o produto ou a fábrica da violência? A paz é construída com armas? Soldados constroem a paz? São trinados para isso? As missões de paz são feitas por quem no mundo? Por soldados? Isso é solidariedade? Me digam: Quem lucra com isso?!As missões de civilização empreendida pelos EUA estão civilizando quem? De que forma? Pergunto novamente. Quem lucra com isso?! É o povo iraquiano? Quem lucra com o BOPE? Quem lucra com as milícias? Quem lucra com o trafico de drogas e armas? Certamente não são os jovens que morrem sem nunca ter saído da favela. Eles entram no mundo do crime e morrem cada vez mais jovens. São descartáveis tanto para o tráfico quanto para os que defendem seu extermínio. Estes são os mesmos que defende a redução da maior idade penal. Que sonham com o retorno de uma ditadura aberta, pois já estamos em uma Não escolhemos mais do que os gestores deste regime, nem temos gerencia sobre o judiciário, nem tão pouco outra esferas importantes da vida pública.

Bruno Fernando disse...

então tá, povo reaça, repressão ao tráfico e aos envolvidos em primeiro plano, e não intervir contra esse sistema excludente que concentra absurdamente a renda nas mãos de poucos.

ô povo doido para ir morar nos condomínios cidades da zona oeste e adjacências, vivendo naquele mundo utópico, e que fica indignado com o Estado quando é incomodado por algum pedinte esfomeado no sinal de trânsito.

mesmo os ataques pessoais a quem quer pensar soluções para uma sociedade menos excludente e mais equitativa são levianos. Não pensamos apenas, pergunte por exemplos. Adjetivos como como encastelado é um recurso retórico útil numa cadeia discursiva bem elaborada, né? Afinal,impõem um perfil distante da sociedade civil a pessoas como nós "ditos pensadores/intelectuais", sem procurar saber quem realmente está na faculdade enquanto uma torre de marfim e outros buscam atuar para além dos muros. Agora, algumas ofensas deveriam terminar como uma frasezinha do tipo: "vou chamar a minha mãe", porque dizer que alguém é feio, bobo, ou chato é o cúmulo, né?

Alex Sander disse...

Tenho muitos acordos com a critica... Penso que estamos vivendo muito mais que uma "crise social", estamos experiencia uma "hipocrisia deliberada". Muitos comentarios, estão "cansados" disso tudo, mas não tem a coragem suficiente para romper de verdade com o capitalismo e seus mecanismos de repressão (BOPE, FORCAS ARMADAS, ETC). O que fazem é dizer que é mais uma "crítica esquerdista ou marxista", mas continuam fumando seu "baseadinho" ou participando de suas "festinhas Wave". Quando falo em hipocrisia deliberada, não estou rementendo aos políticos, mas o tipo de sociedade que os sustenta, enquanto tivermos a "supremacia do capital", tudo que falarmos longe disso é "um tiro no próprio pé". Antes de assumirmos a "ideologia dominante" em seu discurso "anti-marxista", seria interessante reconhecermos porque não defendemos por exemplo a "legalização dos intorpecentes" e tratamos o seu consumo como uma questão de saúde pública? Embora seja uma saída também problemática, visto num sistema capistalista como o nosso. Então minha gente, não adianta "abrir esse bocão" tão "fascista e autoritário" quanto aquilo do que chamamos do "velho socialismo stalinista". E quanto ao filme, não vou ver no cinema, talvez eu o veja na "tela-quente Globo", como fiz com "Cidade de Deus e Carandiru" - não suporto essa "estetização industrioza da violencia" - por que não passam "Estamira" (por exemplo.

Anônimo disse...

Caro Observatorio,

ainda que o artigo possa ser interessante, ele é completamente infundado em sua pontualidade, pois ele busca ser uma critica ao filme, afirmando que este legitima a pratica da BOPE e humaniza seus integrantes.

Como ja escrito em um comentario acima pela Camila, o filme NAO busca legitimar a BOPE ou humanizar seus integrantes, ainda que de um ponto de vista social-psicologico tal pudesse ser interessante.

O filme busca, antes de tudo, ser uma critica às praticas da policia bem como a da sociedade em geral, por legitimar tal pratica.

Tal perspectiva pode ser observada nas entrevistas com o diretor do filme, onde ele demonstra sua surpresa ao ver que o filme esta sendo considerado como um "elogio" ao tipo de policia ali exibida e que inumeros comentarios demonstram, sendo alguns ainda demonstrando o desejo de uma policia ainda mais "incisiva".

O filme, quando exibido para jornalistas estrangeiros, causou a repulsa que o diretor tanto queria causar. O diretor, o mesmo do "onibus 174", pretendia realizar, na verdade, um documentario sobre a BOPE, buscando complementar a "tese social" que ele ja havia exibido em seu documentario anterior. Esta tese é nada mais que o mesmo texto afirmado neste blog, que a BOPE surge de uma necessidade de partes da sociedade de excluir um "outro grupo social", que ao se ver negligenciada dentro de um esquema social mais amplo, decide agir de forma a sobreviver.

Se o filme causou a impressao errada, nao é culpa propriamente do filme, pois ele busca "retratar" o que efetivamente ocorre, mas a "culpa" é antes de uma modificacao da percepcao social, que atinge a maior parte da populacao carioca, e talvez brasileira.

Antes de postar uma critica sobre um filme, afirmando o que tal PRETENDE REALIZAR, seria interessante primeiro observar as INTENCOES DO DIRETOR, pois ele busca nada mais que criticar as mesmas coisas que voces criticaram acima.

Unknown disse...

O diretor não acompanha o filme em cada exibição. Assim, suas intenções simplesmente não interessam.

Anônimo disse...

Quando se deseja realizar uma critica a um filme, afirmando que tal almeja defender uma determinada ideia, a intencao do diretor importa mais que qualquer outra coisa, pois no fim é ele que vai guiar a exposicao desta ideia. Nesse sentido o que ele mesmo pensa do filme, se este foi feito para apoiar tal ideia ou nao, é extremamente valido e necessario para a boa compreensao do filme.

Anônimo disse...

Ai gente...qnt comentario imbecil e chato!!!

Se nao gostam do filme, pare de encher o saco de outro que gosta!

Bando de religioso chato!

Observatório da Indústria Cultural disse...

Prezado Anônimo,
Uma das coisas que mais me impressionou sobre Tropa de elite foi saber que este filme havia sido dirigido pelo mesmo diretor de Ônibus 174, que considero um dos melhores documentários que já vi na minha vida. E até acredito que José Padilha não tivesse a intenção de fazer uma propaganda do BOPE. Só que as criações culturais, as obras de arte, não se resumem às intenções de seus criadores, porque elas vão viver num contexto histórico e cultural mais amplo. Lembro aqui do muito debatido "caso Balzac", literato de posições políticas muito conservadoras, mesmo reacionárias, mas que produziu obras profundamente críticas da sociedade de sua época.
O que interessa na nossa análise é que Tropa de elite espelha posições reacionárias, discriminatórias, preconceituosas e criminosas que são compartilhadas por alguns setores e instituições de nossa sociedade, sem apontar para sua crítica, sem contextualizá-las num quadro amis amplo. Seus heróis são carismáticos na defesa de uma estado fora-da-lei que atinge sobretudo pobres e favelados, oprimidos também pelo tráfico. Outra tese historicamente descontextualizada e com implicações reacionárias é a do consumo como motor do tráfico. Sabemos que qdo ocorrem grande apreensões de drogas, a "bandidagem" amplia as ações de seqüestro e assalto a bancos, por exemplo. Essa lógica é alimentada pela indústria bélica, pelo tráfico de armas, e outros fatores que não são tocados no filme.
É preciso perguntar também para que os traficantes da favela vendem drogas. Basicamente, para consumirem aqueles produtos que nos tornam "alguém", de preferência de amrcas caras,associadas e poder e prestígio social. Nesse sentido, se quem compra um baseado financia o tráfico, o mercado e as grandes marcas tb o fazem ao gerar um mundo fantasioso de mercadorias aparentemente disponíveis, mas inacessíveis para a maioria da classe trabalhadora. O consumismo também é criminoso, não é mesmo?
Também penso que não foi a toa, em em meio a tudo isso, que a questão da pirataria foi levantada pelo diretor de um ponto de vista moral, sem aprofundar em seus aspectos econômicos (sugiro leitura de artigo publicado por mim no site fazendomedia.com), mais uma vez criminalizando o consumo sem levar em conta a produção de bens culturais de modo excludente.
Só para terminar: o teor agressivo e autoritário de muitas mensagens acima demonstram claramente como esse filme, a despeito das intenções de seu autor (que, repito, acredito que não fossem essas), responde a demandas de repressão, pena de morte e violência generalizada contra os de baixo.
Espero que os próximos filmes de José Padilha tragam outras vozes para a cena pública, mais humanistas e democráticas.
Um abraço,
Adriana Facina.

Anônimo disse...

Cara Adriana,

Realmente, concordo contigo em muitos pontos em seu comentario. Primeiro, a sua afirmacao que uma obra de arte se estende alem de seu criador, gerando reacoes alem das "intencoes" do autor, pode ser afirmado quase como um fato cientifico, suportado por inumeras teorias.

Particularmente, acredito que este filme, tendo sido feito como foi, pode gerar algo muito mais interessante que um filme abertamente critico. Tal filme conseguiu criar um debate ainda mais aberto e pode retirar veu social que existe entre a acao da policia e o pensamento legitimante da sociedade em geral. Sendo ainda de forma "hollydiana", o filme pode atingir um publico extremamente amplo, daqueles que nao vao somente ao Espaco Unibanco, e assim gerar um debate de forma ainda mais aberta e genuina entre as inumeras divisoes da sociedade. Podendo alcancar os olhos internacionais, sendo entao a critica nao mais confinada ao territorio nacional.

Infelizmente, as tentativa do autor de chocar a sociedade com a sua policia falharam. E este possivelmente teve que observar como a atual sociedade chegou a um ponto de pressao tao intenso e concentrado, que coisas tao almejadas, como a protecao universal da vida, se torna contraditorio com o atual esquema social. O que a maioria dos comentarios exibem é a ideia de que a protecao de si exclui necessariamente outros individuos.

Desta forma, acho que o filme teve uma capacidade boa a explicitar a perspectiva de um lado da sociedade que esta bem insatisfeita. Eu acredito que muitos nao desejam possuir a opiniao que possuem, pois nao sao opressores sociais per se, mas simplesmente estao deseludidos com a violencia brasileira.

Ademais, agradeco seu comentario, pois o achei muito interessante, e concordo com quase tudo dito, com excecao do filme poder ser interessante ;)

Abracos

Anônimo disse...

Olá anônimo, ou anônima,

Quanto as suas dúvidas quanto a minha residência, digo que não faz diferença. Não moro na favela, mas moro relativamente próxima, a alguns passos para ser mais preciso. Não me interessa tão pouco sua afirmação quanto as minhas inclinações políticas, já que não compartilho do projeto de sociedade imposta pelo modelo fascista. Todavia, a liberdade de opinião, ainda que pouco tolerada no Brasil, ainda que sobre o disfarce da democracia e abraço às diferenças, ainda é bem possível. E, por isso, expresso minha opinião como alguém que identificou um certo tom de realidade no filme. Não assino, em nenhum momento, uma carta de apoio à polícia brasileira, que pouco se diferencia daqueles que combate. Contudo, meu querido, não posso sustentar a noção ingênua de que os traficantes e afins são resultado das estruturas econômico-sociais e que, por isso, também são oprimidos por um pseudo sistema global, que com seus tentáculos busca, às madrugadas, conformar uma estratégia brilhante de exterminação dos não adaptados. Faça-me o favor! Esse tipo de visão só faz com que nos acomodemos com um estado de coisas, que como uma cadeia ininterrupta de fatos, não acha fim. Não, não faço parte da elite conservadora do país. Aliás, que tipo de elite o artigo se propõe abordar. Porque, vamos ser sinceros, a elite desse país esta cagando para a elite da tropa ou a tropa da elite, ou os diversos baianos, porque estão seguramente fechadas em seus condomínios que escondem inúmeras lojas e estabelecimentos 24h.
Só quero afirmar, para concluir, que todos nós sofremos com essa guerra, as pessoas que moram na favela, as pessoas que moram em bairros próximos. Menos a tão citada elite. Essa está enclausurada num mundo paralelo, ou nos condomínios da Vieira Souto.

Anônimo disse...

Análise brilhante. Réplica brilhante aos reacionários de plantão. Parabéns Adriana! Para quem gostou de tropa de elite, sugiro assistir ao "300" - é a mesma lógica beligerante.
Eduardo

Anônimo disse...

A crítica não deve ser feita ao filme, e sim a nossa sociedade, que está apoiando o uso da violência para combater a violência (contraditório, vcs nao acham????)
Garanto q o propósito do diretor era chocar a populaçao e promover um debate sobre o sistema político brasileiro, que através da corrupção acaba legitimando o tráfico e a violência.
No início do filme o "capitão nascimento" deixa claro qual é o objetivo do BOPE: desarmar os traficantes e não acabar com o tráfico.E o filme demonstra que quem formece as armas é a propria PM, que está diretamente ligada a política nacional( o filme tb mostra isso), logo fica claro que o BOPE é um fantoche do sistema, não adianta desarmar os traficantes se não combater a corrupção na PM (outra contadição).A guerra do "capitão nascimento" não tem fim, não vai ser o BOPE que vai soluciona-la.
O resultado é um ciclo vicioso que afeta e desrespeita, cada vez mais, as camadas mais baixas da população, eles é que mais sofrem com essa "guerra" sem fim.
Acho q o filme mostra claramente isso quando o "capitao nascimento" sai invadindo todas as casas do morro dos prazeres para achar o traficante ( e sua busca era para uma vingança pessoal).
O que está errado é a nossa sociedade achar que "saco na cabeça" é a soluçao para os problemas da violencia do Rio, que na favela só tem bandido e a soluçao é "soltar o dedo".
Nao devemos esquecer que a maioria dos "aviãozinhos", "foqueteiros","vapores" são crianças, que deveriam estar na escola, mas se envolvem no tráfico para ajudar em casa ou para poder comprar o produto que está na telivisão 24h por dia. Numa sociedade puramente capitalista o consumo vira obrigação infelizmente.
Não é o filme que é fascista e sim a sociedade brasileira, que quer acabar com a violência(apoiando a violência) mas continua colocando no poder políticos corruptos, que estão cagando para edução, saúde, segurança pública e princípios básicos possibilitem condições minimas para uma vida decente. Se o governo suprisse essas necessidade básicas garanto que a violência diminuiria.

Anônimo disse...

Bem, acredito q tal problema desse filme seja realmente maior q se imagina. Deem uma olhada:

http://br.noticias.yahoo.com/s/09102007/25/manchetes-tropa-elite-inspira-brincadeira-tortura-na-web.html

Um pequeno trecho da noticia deste link:

"A psicanalista Lulli Milman não tira a responsabilidade do filme nestas atitudes dos jovens. "Ele mostra o Bope como salvador desta situação de violência, aparentemente sem saída, que a gente vive. Só que o herói do filme defende o uso da violência para combater a violência", analisou. Desde que o filme passou a circular pela cidade em cópias piratas, Lulli ouviu no seu consultório vários relatos de jovens impressionados com o Bope e encantados com o Capitão Nascimento. 'Como o mocinho da história tem este tipo de atitude, por que não achar que isso é o melhor? O filme libera uma coisa horrível, sádica que todo o ser humano carrega dentro de si. O jovem tem essa agressividade menos controlada. Se o grande honesto no filme faz aquilo, o adolescente se identifica imediatamente. É lamentável.'"

Anônimo disse...

Caralho, vai todo mundo tomar no cú e parar de discutir o sexo dos anjos... Não fode bando de pseudo intelectual de merda.

Anônimo disse...

Algo q pra se ler tb acerca deste filme:

http://noticias.br.msn.com/artigo_BBC.aspx?cp-documentid=5573936

Anônimo disse...

"Análise brilhante. Réplica brilhante aos reacionários de plantão. Parabéns Adriana! Para quem gostou de tropa de elite, sugiro assistir ao "300" - é a mesma lógica beligerante.
Eduardo"

A análise foi superficial e foi completamente destruída pelo tal do Perivaldo lá. Alias, parabens perivaldo, muito bem!

E outra, se você acha que 300 tem alguma coisa a ver com Tropa de Elite, só por que você achou violentinho, então você é realmente idiota. =)

Joffe disse...

Caros Adriana e Mardonio,

Parabéns pelo excelente trabalho!

Redigi uma crônica sobre o tema, tentando quebrar a resistência ao termo fascista. Dêem uma lida quando puderem.

Grande abraço!

-x-x-x-x-x-x-x-x-x-

Fascista, não!

Está certo. O Padilha e o Wagner Moura têm razão de estar chateados com essa história de serem chamados de fascistas. Isso foi uma grande injustiça. O filme não é fascista. De jeito nenhum. Só quem ignora completamente o que foi o fascismo poderia fazer tal confusão.

O fascismo significa, antes de tudo, uma contra-ofensiva militar das classes dominantes contra os trabalhadores e seus aliados: as nacionalidades, etnias e culturas oprimidas.

A ascensão de Mussolini, Hitler ou Franco significava simplesmente uma reviravolta tática dos setores desfavorecidos do imperialismo europeu visando quebrar a coluna vertebral do proletariado de seus países, preparando assim circunstâncias favoráveis para a deflagração da Segunda Guerra Mundial.

Hitler necessitava subjugar a classe operária alemã, expurgar a tradição socialista do movimento operário mais bem organizado do mundo, difundir o ódio racial, preconceitos étnicos, disseminar o terror, promover o holocausto...

Para quê? Para que a indústria alemã pudesse escoar suas mercadorias para o mundo semicolonial e para os mercados europeus, dominados pelos imperialismos "democráticos": EUA, Inglaterra e França.

Para que a técnica e a cultura mais desenvolvidas da Europa pudessem encontrar expressão no mundo dominado segundo a partilha feita na Primeira Guerra Mundial, Hitler necessitou converter os trabalhadores alemães em uma máquina de guerra.

A dominação econômica dos mercados consumidores e das fontes de matéria-prima "alheios" requeria sua prévia dominação militar. Para isso, era preciso convencer a nação alemã a entrar numa guerra infernal, a sacrificar-se de corpo e alma numa guerra insana, a aceitar sua completa desumanização, a crer em sua superioridade racial, ou em qualquer outro tipo de superioridade (a ideologia racial foi apenas uma variante). Não foi fácil. Custou dez anos de esforços estatais intensivos, propaganda, terror, persuasão. Custou a reintrodução do trabalho escravo e o extermínio de milhões de seres humanos em campos de concentração.

Isso era o fascismo, na sua forma mais decidida e resoluta: o nazismo.

Quando as circunstâncias tornaram-se favoráveis, os capitais bancários e industriais alemães decidiram afogar a Europa no sangue das suas classes trabalhadoras. E conseguiram. E ganharam muito dinheiro com isso, sem dúvida. A Wolkswagen, BMW, Siemens, Basf, Bayer, Bosh, entre outras, testemunham.

Isso era o fascismo.

Coitado do Padilha. É possível que ele tenha alguma coisa a ver com essa história? Claro que não!

Mesmo o fascismo terceiro-mundista, caricatura militar e econômica, naturalmente, do europeu, não poderia ser associado com a temática abordada em "Tropa de Elite". As ditaduras militares latino-americanas visavam frear a onda de revoluções de libertação nacional que abalou o mundo semicolonial do pós-Segunda Guerra, ao mesmo tempo que ofereciam resistência ao ascenso continental urbano favorecido pelo triunfo da revolução socialista em Cuba. É verdade que o BOPE foi instituído pela ditadura. Também é verdade que, naquela época, ele não tinha nada a ver com o suposto "combate ao narcotráfico". Suas funções eram muito menos "nobres". Mas, atualmente, o BOPE tem pouca coisa a ver com os "porões da ditadura".

O filme não é fascista. Tampouco é justo dizer que faça apologia da tortura. Ele simplesmente mostra que a tortura existe, e que ela é sistematicamente usada pelas forças de coerção estatais, isto é, a tortura continua sendo um método sistemático adotado pelas forças policiais no Brasil. Outra coisa que o filme mostra é que, no Brasil, a pena de morte existe. Caveira! Morreu. Já eras. Execução sumária. Tiro na cara. Sem julgamento, sem direitos, sem nada. Pena de morte. Isso existe no Brasil. E foi isso que o filme do Padilha mostrou. No Brasil, a pena de morte e a tortura são métodos sistemáticos e preferenciais usados pelas forças de repressão do Estado.

Mas o Padilha não faz apologia da tortura? Claro que não. O Padilha faz apologia da justiça, isso sim.

Qual a razão do sucesso de "Tropa de Elite"? Muito simples: as pessoas ficam felizes por ver um pouco de justiça, mesmo que seja falsamente retratada. O Capitão Nascimento, do modo como foi retratado, é um justo. E os brasileiros são justos. Os brasileiros adoraram o Capitão Nascimento. O Capitão Nascimento faz justiça num país sem justiça, onde os dirigentes da nação são porcos corruptos, onde todas as instituições do Estado estão podres e corrompidas. O Capitão Nascimento mata e tortura. Mas, aos olhos do povo sofrido, acuado pelas privações, pela fome, pelos indizíveis sofrimentos, isso é justiça. Matar vagabundo, matar traficante. Caveira! Pega ele, Capitão Nascimento!

O trabalhador brasileiro trabalha 44 horas semanais em penosas condições. Ganha salário mínimo. O filho é drogado. A esposa, doméstica. A filha, desempregada. O trabalhador brasileiro sofre. Então, vem o Capitão Nascimento e diz: "A polícia é corrupta. A polícia é sócia do narcotráfico. Não tem solução. Tem que matar. Caveira!"

E o trabalhador brasileiro fica imensamente comovido! Porque, além de tudo, o Capitão Nascimento toma água num copinho americano. E a mulher dele esquenta água para o café numa humilde panelinha. O trabalhador brasileiro tem pena do Capitão Nascimento, porque o Capitão Nascimento também sofre. Ele também é explorado e humilhado no serviço! Ele também passa privações, sofrimentos, angústias. O Capitão Nascimento tem até problema de família, igual ao trabalhador brasileiro!

Aos olhos do povo, o suposto batalhão incorruptível de justiceiros humildes e bem intencionados representou um alívio. Viram? Existem pessoas justas nesse país. Existem pessoas como nós, que fazem das tripas coração. Que dão o sangue e o suor num trabalho honesto. Que são justas. O Capitão Nascimento é um justo, um sofredor. Um brasileiro. Por isso nós gostamos dele. Pega ele, Capitão Nascimento! Pega ele!

Essa é a receita do sucesso. Além, é claro, do preço: só custou R$ 5,00. Para a maioria, oportunidade única de ver um filme assim, em primeira mão, ou, se preferirmos, de mão em mão.

Não se trata de fascismo, de maneira alguma.

Mas de um falso retrato da justiça, encomendado por um Estado corrupto, podre, incapaz.

O Padilha fez o que a Secretaria de Segurança Pública do Rio e a Rede Globo jamais fariam: criou a ilusão de justiça, criou a ilusão de honestidade.

Agora, o povo pobre, humilde e espoliado das favelas do Rio será vítima do terror, dos bárbaros assassinatos, das balas de fuzil perdidas, das torturas, das humilhações; porém, na TV, no Jornal Nacional, os assassinos torturadores serão reverenciados! A opinião pública será favorável ao terror!

Quando o Caveirão, o blindado assassino do BOPE, entrar nas favelas atirando nos miseráveis, nos desvalidos, atirando nos herdeiros da escravidão, a classe média gritará "Caveira!" em seus lares confortáveis.

Além disso, o Estado não tem mais nada a ver com o narcotráfico. Não são os juízes, promotores, deputados, senadores, prefeitos, governadores, delegados os responsáveis pela proliferação do narcotráfico. O Estado não é mais cúmplice da indústria das drogas. A partir de agora, os cúmplices do narcotráfico são... os filhinhos de papai da classe média, que fumam maconha e cheiram cocaína! Bate neles, Capitão Nascimento! Surra eles! Eles financiam o tráfico! As multinacionais, os grandes bancos, os acionistas das grandes indústrias, os sócios da "multinacional do pó" não têm nada a ver com o tráfico! A culpa é dos maconheiros! Pega ele! Caveira nele! Caveira nele, Capitão Nascimento!

Quando, finalmente, as armas do BOPE forem apontadas para a cabeça do trabalhador brasileiro, acuado num bequinho da favela, não adiantará clamar por piedade. "Piedade, Capitão Nascimento! Não mata, por favor, tenho filhos pequenos, sou trabalhador, honesto. Sou preto porque nasci preto, sou pobre porque nasci pobre! Mata, não, Capitão Nascimento! Mata, não!"

Não adiantará.

O Capitão Nascimento é apenas uma marionete numa Tropa da Elite. A Elite mata. A Elite quer matar. A Elite não gosta de "preto". A Elite não gosta de pobre. Pouco importa que sejam trabalhadores ou traficantes. Pouco importa. A Elite quer gozar o seu Paraíso Tropical. A Elite cansou de ser açoitada nos semáforos. A Elite não quer mais ser ameaçada por assaltantes por causa de relógios. A Elite cansou de levar bala na cabeça em seus veículos blindados. A Elite está cansada e horrorizada com a proliferação da miséria e da violência.

Olho, trabalhador brasileiro!

A Tropa da Elite vem aí. E vai pegar você.

Aí vem a tortura, a pena de morte.

Olho, trabalhador brasileiro!

O Capitão Nascimento não existe.

Na vida real, eles vão matar você, não o traficante rico.

Olho, trabalhador brasileiro!



José Luís dos Santos
São Paulo, outubro de 2007


PS.: José Luís dos Santos é jornalista desempregado.

Anônimo disse...

É engraçado notar a reação da ala marxista (comunista anti-sistema) chocada com a cena do maconheiro viado fazendo merda que o BOPE tem que limpar, porque durante seus áuros tempos de graduação se entupia de maconha sentada no gramado do Gragoatá, se é que não o faz até hoje.

O moralismo barato e a visão preconceituosa é ilustrada nas passagens em que você mesma define todos ali como pobres coitados e incapacitados, quando eles são sim cúmplices, seja por financiarem, seja pela omissão.

Gostaria de saber se, com seu salário de merda, até porque todos sabemos que é o que um professor infelizmente recebe no país, mas que no seu caso até não é de todo mal, já que o dinheiro é a causa mor da destruição social, se daria ao direito de pegar numa arma e entrar pro tráfico só porque não tem oportunidades melhores e é revoltada com o sistema.

Gostaria de saber também porque você não comenta a passagem em que dois jovens, maconheiros de merda, são brutalmente assassinados pelas vítimas da sociedade neoliberalista que garante seu bem estar social hoje.

Por fim, porque neste blog você nunca postou nenhuma notícia sobre traficantes que descem armados e metralham delegacias e policiais em seus postos. Você não acha isso repugnante? Metralhar um cidadão de bem.

Por que isso não te revolta?

Sua visão simplista e idealista de um mundo inexistente mostra que, do alto de sua arrogância acadêmica, estamos formando (porque infelizmente gente como você está habilitada a lecionar em instituiçoes de ensino) uma sociedade com valores invertidos, onde bandido é pobre coitado, e polícia é má.

Até porque, admitamos, quando eles sobem o morro, são recebidos com cafézinhos.

Vou ilustrar de maneira bem rápida, nada relacionado com o tráfico. Vou falar de roubo.

Suponhamos que um ônibus cheio de turistas ingleses disposto a gastar uma caralhada de libras esterlinas no nosso balneário seja interceptado na linha vermelha e seja assaltado.

A repercursão negativa disto gera um rombo numa economia que está cada vez mais fraca. Nem os turistas nós podemos receber mais. Os aviões com destino ao Galeão tiveram que mudar sua rota de aproximação porque estavam sendo baleados por vítimas da sociedade.

Mas para você, isso com certeza não importa, porquê escondida em niterói você se omite de ler os jornais.

Em que mundo a senhora vive?

Att.

Lobo Mau Capitalista!!!