sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

War in Rio é um jogo manifesto e uma piada de mau gosto (?)





Pegando carona no fenômeno de massa Tropa da Elite, a idéia é perguntar ao cidadão carioca se ele acha que esse tipo de entretenimento combina com pipoca ou com uma reflexão profunda sobre a realidade de sua cidade.

Depois de alguns muitos meses com vários comentários, críticas e toda a atenção para o filme Tropa de Elite, de José Padilha, estava achando que não iria surgir nada além das novas gírias e jargões. Estava enganada, o filme virou jogo.

De fato, a película deu um grande impulso para a criação do jogo War In Rio, do estudante Fabio Lopez, formado pela ESDI/UERJ, que tem como objetivo invadir favelas do Rio de Janeiro e sentar o dedo no tráfico.Pois é, o jogo parece se dar muito bem com um discurso elitista da classe média e rica de muitas zonas,principalmente a zona sul, da cidade.

“O tabuleiro projetado oferece informações sobre a localização aproximada das favelas do Rio de Janeiro, apresentando de forma educativa regiões pouco conhecidas por muitos moradores da cidade.”

Em um momento em que ser politicamente correto está em baixa, se dá bem, aqueles que propõem um entretenimento que, além de flertar com o REAL, é debochado e irônico. O fetiche em torno do real está atrelado a uma arma educacional e informativa potente: o entretenimento. Não estou aqui em defesa da seriedade e da ordem blá,blá, blá... Claro que não! O que acredito é que existem questões em que não cabem certas brincadeiras, pois há um contexto em que somente “os inteligente” vão rir, que nem as piadas do Chaves? Pois é, esse jogo, pra mim, é uma piada de mau gosto somente para as pessoas que querem ver certas falas fascistas,racistas que nem sempre são tão claras.Para as outras,tantas infelizmente, é um dado da realidade, realidade essa retratada pela mídia hegemônica.

“Para inspirar os participantes, acrescentamos ao objetivo uma frase do líder revolucionário Emiliano Zapata: ‘Es mejor morir de pie que continuar viviendo de rodillas’, que em português pode ser traduzida como ‘põe na conta do Papa’.”

O mais curioso do jogo é ver quais estratégias ele apresenta para legitimar seu lugar de “manifesto”, como apresenta o estudante. Ao associar o discurso do BOPE com uma fala de Emiliano Zapata, além de promover uma esquizofrenia e um abalo sísmico no túmulo do falecido companheiro Zapata, fornece à brincadeira um “quê” heróico, ou quem sabe aí está a ironia tarja preta (que vem com caveirinha) com a nossa história.

Para escolher o seu peão continuamos na dicotomia promovida pelo filme, mas no jogo excluímos o terceiro grupo dos buchas intelectuais, estudantes, e das pessoas com consciência social. Até por que, ser bucha é muito chato, e assim como todas as brincadeiras de criança ou é polícia ou ladrão. Esses papéis estão confusos?

Se pensarmos que é mais comum a identificação do jogador de acordo com sua classe, acesso cultural, entre outros fatores do campo econômico-cultural, esses lugares estarão bem definidos.
Podemos ser: BOPE, C.V, PM, A.D.A, Milícia, T.C. Mas não há papel para pensadores, estudantes,artistas, esportistas isso não existe no jogo, logo não existe na realidade.Não é?

“(para que a partida possa chegar ao final, recomendamos que seja estabelecida uma pequena distinção entre realidade e entretenimento)”

Isso sim é uma piada! Desde quando temos uma linha firme que separa e define realidade e entretenimento, que não seja traçada por nossos valores? E será que esse jogo inicia-se nesse tabuleiro ou na luta de grupos sociais, classes, que temos na sociedade? Também é muito provável que o jogo não termine no tabuleiro, mas sim nos atos que serão reforçados pela vitória ou derrota nesse jogo. Se é que exista vitória aí.

O que me parece é que o público está tão receptivo, quanto esteve no cinema e nos dvds.Os comentários do blog do projeto( jogowarinrio.blogspot.com) são muito positivos, exacerbados e animados para ter um na própria casa e começar a “ invadir favelas”.

Segundo um dos comentários:

“O que influencia os jovens a enveredar pelo caminho do crime são a falta de oportunidade; a hipocrisia da sociedade; a conivência e a certeza da impunidade; a indiferença, a ausência e o descaso do poder público.”

Quanto à questão dos jogos, acredito que não são responsáveis sozinhos por assassinatos, entre outros atos de violência, mas quando nomeamos os territórios e reafirmamos a situação de "guerra” do Rio de Janeiro, estamos contribuindo para a construção de um imaginário e que, junto aos outros produtos culturais e informativos, vão ser propulsores de violência sim.


A impunidade banaliza a violência que a injustiça social patrocina - e a passividade mantém tudo em seu lugar. Usar de irreverência para discutir assuntos sérios é uma estratégia de atingir mais pessoas, e de mobilizar os meios de comunicação para debater o que não deve ser apenas noticiado.”

Se usamos a irreverência a favor do que já temos por aí como notícia, se falamos a mesma língua que a mídia de maior alcance, não estaremos abrindo espaço para novas discussões, somente para reafirmar a ladainha e contribuir para nos ausentarmos de nossas responsabilidades como cidadãos e seres políticos humanos. Essa injustiça social citada pelo estudante está sendo feita a cada dia, não é algo que vem junto com um pacote de governo, de cultura, ou país. Precisamos tomar consciência do nosso papel, pequeno sim e muito grande quando coletivo, para discutir e criar mudança.

Para finalizar, acho que devo mostrar que esse assunto é tão sério que não foi uma piada de só uma pessoa. Pois é, a idéia de um jogo como War in Rio, já havia sido pensada por outras pessoas, porém se chamaria Uór. Não é brinquedo não...

Se você quiser dar uma conferida nos projetos, seguem os links:




Dally Schwarz (UFF)

7 comentários:

Anônimo disse...

Em primeiro lugar, o texto está muito mal escrito.
Mas o que incomoda são os exageros, o radicalismo do autor.
Tudo bem, o discurso do criador do jogo, de que ele seria algo positivo, um "manifesto", é história pra boi dormir. Agora, problematizar todo o jogo por se tratar de um jogo "mocinho X bandidos" é um grande exagero. Jogos assim são comuns. Provavelmente nem seria tema desse blog se não estivesse ligado ao polêmico filme, que, diga-se de passagem, está sendo claramente injustiçado pela esquerda.
É claro que é importante analisar as produções culturais, mesmo as voltadas simplesmente para o entretenimento. Mas isso não justifica a crítica feita aqui. Uma crítica realmente exagerada e radical, que chega a cair no ridículo e no absurdo.

Thiago Ricardo de Mattos disse...

É preciso sair da inocência que impede que percebamos o quanto obras de arte, brinquedos e teorias servem à reiteração do controle violento sobre a sociedade e todos os sujeitos, ricos ou pobres, de "direita" ou de "esquerda". As elites usufruem do trabalho e dos bens produzidos pelos sujeitos que trabalham muito e ganham muito pouco, mas ambos estão presos a uma relação que distancia as pessoas, as transformam em Outros ameaçadores, impedindo que se encontrem e construam outras relações, outros produtos, outros consumos, outros trabalhos.
Sendo assim, quando falamos sobre desigualdade social não somos "esquerditas". Temos, isso sim, que buscar uma consciência social baseada na crítica social, e não em discursos cristalizados e que cristalizem os outros discursos.

Anônimo disse...

O Oicult é uma idéia legal, mas estão super repetitivos os posts sobre violência. Tem tanto assunto tam´bém importante nas indústrias culturais... Sugiro que vcs convidem o prof. Marcelo Badaró, do ICHS, para colaborar no blog. Seria um super reforço!

Anônimo disse...

Já pintaram variações: visite warinrio2.blogspot.com.

Anônimo disse...

cuidado ana-ichf: assim vc acaba entrando pro cansei! rs

Anônimo disse...

Thiago, o que você realmente disse está certo: precisamos ter uma visão crítica da sociedade, inclusive de sua produção cultural. Mas isso não justifica uma série de exageros que podem ser facilmente encontrados em diversos discursos, tanto de direita quanto de esquerda. Aliás, sempre achei essa idéia de direita e esquerda uma grande bobagem. A grande questão da sociedade está muito acima de direita e esquerda, e é preciso perceber isso.
Voltando aos exageros, eles podem ser encontrados em diversas análises, inclusive de vários textos colocados nesse blog, sobre alguns fatos. A análise desse jogo está cheia de exageros e radicalismos, assim como várias análises (tanto de esquerda quanto de direita) sobre Tropa de Elite ou sobre o assalto ao Luciano Huck e sua carta ao jornal. Esses radicalismos e exageros devem ser combatidos, pois são eles que petrificam as idéias.

Lu disse...

John Walker: em primeiro lugar. o texto não está nem um pouco mal escrito, não sei de onde você tirou esta idéia. (!?!)

Depois, dizer que o filme está sendo "injustiçado pela esquerda" não faz o menor sentido. A autora em nenhum momento criticou o filme neste post. Então não entendo por que vir falar disso aqui.

Em uma entrevista, o próprio Padilha (que me parece mais de esquerda do que de direita, se o critério for a preocupação social sobrepor-se à mercadológica) afirmou que ficou chocado com o tipo de recepção do filme. Ele fez um filme, entre outras coisas, para mostrar de uma perspectiva crítica a violência do BOPE, mas ela foi fetichizada pelo público.

Aliás, fardas do BOPE viraram a fantasia infantil mais vendida no carnaval, para que você não diga que estou "exagerando", termo do qual você parece gostar.

Por último, talvez isto seja um pouco demais para você, mas não existe produção cultural "voltada simplesmente para o entretenimento". Tudo, meu caro, é político, reverbera valores, e até ideologias, conscientemente ou não.

Se quer comentar um blog sobre comunicação, tenha antes um pouco de repertório (não acadêmico, mas pelo menos informativo), para que não passe constrangimentos.