domingo, 30 de setembro de 2007

Um espaço de estereótipo hype: a fabricação das identidades na MTV




Apropriar-se das coisas que se objetivam no homem é uma grande questão explorada pela indústria cultural. No entanto, mais do que empacotar a cultura, a Indústria cultural fabrica subjetividades. E é assim: o “público alvo” se estereotipa em quadros de metas e cria-se até uma psicologia para que publicitários e administradores possam supor qual a intenção do público alvo que pretendem atingir.


Em alguns casos, a fabricação é mais sofisticada. É necessário convencer os homens de que eles PENSAM e têm uma visão crítica sobre a realidade, ainda que, a estratégia esteja numa ilha de edição.

A MTV tem esse tipo de proposta. É feita para aqueles que não querem ser como todo mundo é, têm consciência crítica, pensam em um mundo melhor, gostam de ouvir bandas que ninguém conhece, vão aos circuitos alternativos e curtem a vida com todas as suas potencialidades. Ou seja, é um pedacinho de você em cada programa.

Esta TV é direcionada à juventude e por isso, ela precisa abarcar todas as “tribos” e todos os “sons” do momento. Faz pouco tempo, eu vi pela primeira vez um comercial diferente daquele sistema indecifrável da MTV, daqueles inspirados na noção estética e pós-moderna dos “entendidos” à lá Museu de Arte Moderna. Este era diferente, era mais direto, precisava ser entendido e falava sobre as eleições de 2006. E lá, a MTV mostrava aos jovens, o que eles deveriam fazer diante do processo de eleição.

“Vem aí às eleições, CUIDADO! De um lado, um governo sujo pela corrupção e pela hipocrisia que contaminam novos ricos e velhas raposas no poder. De outro, uma oposição que pensa que todo mundo é idiota e não se lembra do que fizeram quando estavam no governo. Punir suas responsabilidades por zonas de caos em que estamos metidos. No meio de tudo isso, uma campanha inútil e marqueteira com candidatos se atacando e lançando gravatas em busca de votos cordeirinhos. Você vai ficar de que lado? Lá vem mais papo furado. A MTV te dá um dica: prepare seu saco, os ovos e os tomates.” Tudo isto cheio apelo estético forte, com direito a ônibus queimado e tudo, mostrando para todos o CAOS em que estamos vivendo. É fácil colocar caos em vez de uma resposta comprometida com a mudança ou o entendimento desta realidade, né?

Este comercial transcorreu nos meses que antecediam às eleições de 2006 e a MTV se afirmava como um veículo de comunicação que criticava o senso comum e a cultura de massa. Devo lembrá-los também, que antes desta horrenda reatividade política, a MTV criou uma campanha em que, não mais que de repente, uma tarja preta aparecia na tela e dizia: desligue a TV, vá ler um livro.

Como pode um veículo de massa fazer uma campanha contra si mesmo? E eu respondo: sabe quando a gente diz que alguém está fazendo o marketing? Ah,é notório que o veículo que melhor faz isso é a TV. Afinal, ser alguém dotado de consciência política é ASSISTIR programas cheios consciência política.

Sem parar por aí, surgiu então na MTV um programa chamado MTV/ Debate que tem como apresentador aquele que sempre foi visto como subversivo a ordem: Lobão. No estúdio, uma plasticidade tanto no cenário (com dizeres de maio de 68) até o apresentador que traz consigo uma trajetória que já não diz nada sobre a sua postura atual.

A MTV tomou como meta esta pretensão de atingir aqueles que sempre têm alguma coisa a reclamar sobre o mundo. E o objetivo é esse mesmo: criticar. Jogar ovos e tomates pelo valor da crítica sem nenhum horizonte de mudança. Essa é uma grande declaração de morte da modernidade. A pós-modernidade também trouxe um caos embutido em tempos difíceis. Somos convencidos, cada vez mais, que a realidade é intratável e por isso, qualquer teoria que tente explicar o mundo e perceba nele uma outra possibilidade - leia-se marxismo - é mal vista. É necessário fabricar uma ideologia paralisante para que a realidade na ordem do dia continue sendo da ordem do pra sempre. E a MTV faz isso, com sua radicalidade mentirosa, capturando mais identidades, tirando a culpa de jovens intelectuais que pensam que agem sobre o mundo, discutindo o que existe de ruim no Brasil em bares da vida.

Assim, vivem os jovens emetevados, caminhando no meio do caos e refugiados em sofás confortáveis, porque o bom é galhofar o mundo.

O comercial pode ser visto em: http://www.youtube.com/watch?v=8JfUTd77RpQ


Ludmila Gama (UFF/Observatório da Indústria Cultural)

14 comentários:

O empírico disse...

Enquanto lia seu texto ia relembrando milhares de críticas que tenho a MTV algumas extremamente positivas(busca possibilidades estéticas diferentes do senso comum, por exemplo) e outras negativas. Se fizermos uma soma, acho que concordo um pouco mais com você do que discordo. Mas se fosse discorrer sobre o assunto iria escrever outro texto com o mesmo número de linhas. Como quem concorre são as emissoras de TV paro de me estender e deixo um pensamento que costumo dividir com minha namorada: "Putz, a Daniela Cicareli de novo? Essa mulher é a dona da MTV agora?"

obs. Não que ver a Cicareli por seja uma coisa ruim.

Em cima do muro, O Empírico.

Anônimo disse...

Legal mesmo é ficar recitando clichês marxistas e da escola de frankfurt, como vocês fazem. O que me impressiona, é que vocês não se tocam do tamanho do clichê que são, as faculdades de comunicação social vomitam gente como vocês todos os anos, e o mundo continua em ordem...não que eu defenda a mtv, é um lixo também.

Anônimo disse...

Adorono � meu pastor e nada me faltar�!!

Anônimo disse...

O capitalismo � mau
mais mau que o pica pau
por isso eu apelo pro clich�
clich� clich� clich� clich�
cli-ch� guevara cli-ch� (q)guevara
cli-ch� (q)gue-vara

Eleanor Rigby disse...

Curioso isso da MTV fazer propaganda contra ela própria...
Me fez lembrar que a maior parte dos viciados em MTV que conheço fazem uma questão enorme de dizer que odeiam a emissora.
É necessário ver a MTV para estar por dentro da bandinha nova que ninguém conhece, da situação inusitada que rolou ontem no ponto P, da nova vinheta sem sentido, mas sempre com um papo de que "tava passando o canal", "de vez em quando eu assisto", "eu só vejo o MTV debate porque o Lobão é foda"... hehe

Anônimo disse...

'Me fez lembrar que a maior parte dos viciados em MTV que conheço fazem uma questão enorme de dizer que odeiam a emissora.'

uau heim, que sutil!! mas não vesti a carapuça não, assim como tenho certeza que vc vestiu as que eu coloquei, senão não faria esse comentário...não julgue os outros sem conhecer.

Adolpho Ferreira disse...

Pois é, não tem como não lembrar do Adorno e perceber que a MTV corresponde a uma fatia do mercado. É o espaço da contestação do jovem, sem nunca produzir nenhuma solução, projeto. Agora, se essa crítica virou um clichê não é culpa da crítica, mas da incapacidade de transformar a teoria em prática. Aliás, combater o clichê é em si uma prática-clichê da prórpia MTV, como bem mostra o texto.

Anônimo disse...

Ok, se não se está conseguindo transformar a teoria em prática, não significa que a teoria é falha?Lendo esse blog parece que a gente ta nos anos 30 ainda, não dá pra trazer reflexões mais contemporâneas, e o meu comentário inicial nem tem a ver com a MTV, e sim com o blog, tá nese post pq é o último post mesmo. E eu não me pretendo ser subversivo, de esquerda,o que ao que parece, pra vocês, é uma grave falha moral e intelectual.

Acho que vocês deviam ser mais pragmáticos, menos sectários , sinceramente.

Adolpho Ferreira disse...

"Lendo esse blog parece que a gente ta nos anos 30 ainda, não dá pra trazer reflexões mais contemporâneas"

Se a análise de um comercial da MTV não diz respeito a uma questão contemporânea, acho que o seu conceito de "reflexões contemporâneas" é ultra-imediatista. A proposta não é esta, pelo contrário; a idéia é fugir do imediato e procurar analisar uma totalidade. Mas eu concordo, essa proposta pode parecer ultrapassada no mundo da velocidade, da fragmentação, enfim, da imediatidade como pensamento único. Acho que o debate sobre as idéias e não o recalque com a proposta do blog seria mais interessante.

Anônimo disse...

Totalidade? eu vejo unilateralidade, e talvez a questão não seja de clichê, ou
cli-chê, nem de imparcialidade, que não existe nem nunca vai existir em lugar nenhum. A questão é que pra mim voces insistem em modelos que não deram certo, socialmente, filosóficamente. Ou então me convençam que aidéia de crítica cultural que vocês cultivam não foi a mesma que deixou Paradjanov anos na prisão, humilhou Tarkovski na ex URSS ou exilou Milos Forman.Eu acho que dá pra mesclar a moralidade, o humanismo com o pragmatismo.

Anônimo disse...

Na quest�o da abordagem, muito do que se refere a esse olhar 'frankfurtiano', foi revisto por cr�ticos posteriormente, como jean claude bernardet, sem deixar a milit�ncia de esquerda, Ismail Xavier tamb�m,ent�o foi isso que eu quis dizer com anos '30', o trabalho mudou,a arte mudou, o homem, embora muitas coisas permaneceram tb, mas n�o da mais pra seguir a linha 'industria- cultural-rea�a-empulhando-povo boc� se achando os messias do pensamento cient�fico, at� porque � uma ide�a elitista tamb�m, o que ao que parece a maioria � contra aqui.

Anônimo disse...

Tem mais coisas, mas me falta tempo e embasamento te�rico. N�o conhe�o ningu�m aqui, nem sei quem edita, posta ou s� comenta, portanto n�o � nada pessoal.

Unknown disse...

"A questão é que pra mim voces insistem em modelos que não deram certo, socialmente, filosóficamente."

Se há insistência em algum modelo que não deu certo aqui, pra mim é a insistência na crítica ao modelo que vivemos. O mais engraçado é que a crítica já virou clichê, mas mesmo assim não conseguiu acabar com aquilo que critica. Talvez por este clichê não sair de meios "pseudo-intelectuais". Neste sentido, a iniciativa deste blog é louvável, ainda que infelizmente seja, talvez, a maior possível hoje em dia.

Bruno Marcondes disse...

Eu gostaria de saber o que que voc�s acham do Lob�o como m�sico e apresentador.