sábado, 29 de setembro de 2007

Borat: uma "crítica" à cultura estadunidense que (re)produz orientalismos


Lançado no Brasil em fevereiro de 2007, Borat atraiu milhares de espectadores ansiosos por uma crítica ao estilo de vida norte-americano, sedentos por uma satirização da cultura estadunidense. Contando a saga de um jornalista, descrito como "o 2º melhor repórter do Cazaquistão e 4ª celebridade mais famosa do país", o que por si só já revela uma ironia com o estilo de vida competitivo, o filme procura, através do viés humorístico, apontar a maneira pela qual os orientais são vistos pelos americanos.
Com o subtítulo de “Aprendizados culturais da América para fazer benefício da Gloriosa Nação do Cazaquistão”, o diretor Larry Charles ressalta aquela que parece ser a missão dos EUA, ou pelo menos a que se quer massificar, qual seja, a de ENSINAR a cultura para os povos do Oriente, dentre eles "a gloriosa nação do Cazaquistão". O discurso civilizador do século XIX é retomado, e todo sacrifício vale a pena, afinal é “O fardo do homem norte-americano” . Tal aspecto pode ser exemplificado em uma das cenas do filme, quando Borat, ao jantar na casa de uma família americana rica com objetivo de aprender como comportar-se em situações semelhantes, pede para ir ao banheiro, faz suas necessidades em um saco plástico e o entrega a dona da casa. Nesse momento, imbuída de um espírito civilizador, a anfitriã leva Borat até o banheiro e ensina-o passo a passo como utilizar o recinto.
Borat, personagem criado pelo famoso comediante britânico Sacha Baron Cohen, assume como características: o machismo, a sexualidade exarcebada, o anti-semitismo jogando para o telespectador, como diz Edward Said, uma invenção do Oriente.
Desrespeitando as feministas, lavando o rosto no vaso sanitário por não saber diferenciá-lo da pia, beijando as pessoas nas ruas, fazendo suas necessidades fisiológicas no jardim do hotel, Borat vai fazendo sua passagem pelo solo estadunidense. Reforça-se, assim, o que Said chama de Orientalismo, ou ainda, uma determinada visão estereotipada do Oriente.
Tendo custado em torno de US$ 18 milhões, Borat rapidamente cobriu seu custo, tornando-se uma produção super lucrativa da indústria cinematográfica, batendo inclusive o record de Fahrenheit, do diretor Michael Moore.
Porém, o que tinha tudo para ser uma enfática crítica ao american way of life se perdeu em meio a cenas de comédia que transformaram o Outro, o diferente, em piada. O que sobressaiu em Borat não foram suas contundentes críticas como no momento em que o personagem principal canta o hino de apoio à “Guerra do Terror” desejando que Bush beba o sangue dos mortos da Guerra, mas sim o maiô inusitado do personagem, bem como sua briga com seu companheiro de viagem que acaba resultando em posições sexuais.
O filme Borat acaba deixando em um plano bem fundo tudo aquilo que, em tempos de recrudescimento de preconceitos, deveria estar no plano principal. Ou ainda, apropria-se de uma visão crítica, tornando-a uma mercadoria bastante consumível.


“Nossas palavras de ordem
Estão em desordem. O inimigo
Distorceu muitas de nossas palavras
Até ficarem irreconhecíveis”


Bertolt Brecht

Bibliografia:


BRECHT, Bertolt. Poemas 1913-1956. São Paulo, Ed.34,2000.
SAID, Edward. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo, Cia das Letras, 2007.


Pâmella Deusdará (Observatório da Indústria Cultural)

10 comentários:

Anônimo disse...

Meu deus do céu! Qta bobagem!

É justamente por esse viés da comédia q a mensagem de crítica se instaura. É justamente por colocá-lo como racista, sexista e exótico q o etnocentrismo da cultura anglo-saxônica (pq ele é inglês, mas fala dos EUA) se instaura. Mas, às vezes as obras de arte são meros reflexos...de nós mesmos e nossos próprios preconceitos.

Eu fico abismada...os marxistas além de burros não tem o menor senso de humor.

Gente feia, cafona e mal humorada. Irc!

Ivan disse...

O que eu considero fraco no Borat é também a sua tentativa de crítica à cultura e aos costumes americanos, ainda que não veja o orientalismo como vetor central da contradição, ou melhor, do equívoco "artístico" do Borat.

Aquilo que é considero falha em Borat é o seu estabelecimento restrito aos códigos de humor que norteiam a cultura americana. Acho que dizer que ele tá criticando o sistema por dentro um papo meio furado, e que pode dar margem aos maiores absurdos: em História, defender que a não-comemoração à vitória da Copa de 1970 foi uma manifestação anti-Ditadura; em Música, achar que grupos pops, rocks, por introduzirem críticas ao "sistema" em suas letras e posturas, estão efetivamente agindo como um câncer do capitalismo.

Borat se sustenta num tipo de humor que é dominante nos EUA (isso para não entrar no mérito do modelo americano de cinema que ele adota como tantos outros, já que não considero isso aqui questão central), baseado em uma espécie de "crítica de si" - ou melhor, crítica dos americanos para americanos - sentido pouco aprofundada, mas cheias de ironia e tiradas rápidas, recheadas de coisas "bizarras", "grotescas" e, sobretudo, gratuitas. Tudo dito numa linguagem light e conhecida de todos e que, por isso, não precisa gerar maiores interpretações. Fica naquela coisa: "Po, a gente só faz merda, mas fazer o q?" Eu acho inclusive - e aí vem polêmica - que o próprio Michael Moore ajuda a alimentar, num certo sentido, esse tipo de humor.

Seria, a meu ver, como dizer que o Pânico é uma crítica mordaz ao esquema televisivo, quando na verdade me parece que há um interesse de ibope e sucesso que rege as práticas ali. Mas isso é outra história. :) Abraços.

Bruno Fernando disse...

O Ivan ganha um ponto no meu conceito, e a clara permanece no zero.

O humor é uma arma de efeito social por excelência. Porém, é aquela com o limiar mais tênue e esquivo. Quando um contéudo humorístico trata de homossexualismo, por exemplo, pensa-se que apenas por não denegrir sua imagem, passa no teste para veículo de crítica social, pois, cumprida a exigência de não reforçar preconceitos explicitamente, o humor tudo justifica.

Exatamente neste momento que o humor mostra sua face perigosa, pq o que está implícito na mensagem é fator de produção de recursos simbólicos para a significação do receptor, o qual não significa a seu bel prazer, interpretamos sempre a partir de um lugar na sociedade e de estruturas estabelecidas que não determinam como pensamos, mas prescreve. E como se não bastasse esse perigo, ao acusarmos esses estímulos sexistas, homofóbicos, racistas, etc., esse humor se acha na direito de defender-se alegando ser apenas humor, que esse é o seu jeito de ser.

Com uma linguagem rápida e concisa, às vezes estereotipada e leviana confesso, o humor é o chamariz da inversão. Quem quiser, como muitos que aqui aparecem, intervir contra o status quo ao utilizar da linguagem da inversão, que é o humor, tenhamos o cuidado de não reforçarmos inviesadamente o queremos, ou dizemos querer, combater.

Nós aqui, auto-intitulado marxistas ou não, temos senso de humor sim. Rimos de muita coisa boba, banal e besta. Mas nem por isso achamos que o humor é uma linguagem crítica por si, pelo menos não na idéia que esperamos ter de crítica social como questionamento do sistema capitalista.

Pegando o gancho do que penso ser a crítica, peço: leíamos Bakhtin (Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento) e o aplquemos criticamente

Anônimo disse...

Eu acho uma profunda falta de senso de humor e xiitismo este texto. Borat é uma das melhores comédias que já vi. As pessoas estão perdendo a noção e o senso de humor, impressionante.

Não sei se a autora é marxista ou socialista, se for explica, pois estas filosofias derrotadas são mesmo coisa de gente cafona, feia e mal-humorada. Socorro.

Eduardo Batista disse...

Eu realmente não entendi o texto, porque eu vi este filme pensando justamente que tudo isso era intencional, ou seja, colocar um personagem mitologico, que é fruto de um preconceito totalemente erroneo, fazendo seus criticos falarem de sí proprios e assim fazê-los exibir seus defeitos. A cena em que mais me baseio é a do rodeio em que ele fala que no cazaquistão eles matam os gays e o cowboy responde que aqui nos ainda estamos tentando fazer isso. O Borat era o personagem mas aquele cara falou sério.

Eleanor Rigby disse...

É... importante lembrar que em nome de dar boas risadas já se pôs fogo em um índio que dormia em um banco, já se agrediu trabalhadora no ponto de ônibus...
Brutalidade também póde ser engraçada...
Que bom que não tenho senso de humor...

Anônimo disse...

Vocês só fazem crítica de conteudo? E outros aspectos , como linguagem, estética, não tem importância? Eu fico impressionado com o que a universidade brasileira ta formando, quer dizer que os EUA são os inimigos é?hehehe

Anônimo disse...

rigbybronstein, vc não pode mesmo ter senso de humor nenhum, porque ninguém agride ninguém no filme Borat, e ninguém disse que é engraçado bater em domésticas nem queimar índios. Acorda.

Anônimo disse...

A rigby faz parte da turma 'ninguém é tão inteligente e boa cidadã quanto eu' comum no pensamento políticamente correto brasileiro. Pensar diferente dela, pelo visto, é um ato de ódio a humanidade.

Anônimo disse...

Bom, já passei por uma faculdade de direito e atualmente sou estudante de publicidade. encontrei este blogger por acaso, devido a um trabalho que farei cujo o tema é indústria cultural e fiquei pasma com alguns comentários visivelmente infundados de algumas pessoas.
Esclarecendo que não ví este filme, mas tenho a clara visão de que o mesmo filme pode ter várias interpretações como podemos ver em alguns comentários, agora, é bem fácil um capitalista cujo os objetivos são apenas extrair lucro, não se importando por quem tenham de passar por cima, me admira muito não ter lido pelo menos um dos milhares de textos produzidos por Karl marx, me admira não entenderem nem o princípio de sua filosofia, me admira muito mais estas pessoas compararem um pensador que foi um dos maiores filósofos da década de 20 com a indústria que virou o capitalismo atual, onde poucos comandam e exploram ao máximo pessoas humildes, sem escolaridade e os fazem acreditar que serão pessoas melhores se se matarem de trabalhar como escravos com a ilusão de se tornarâo pessoas melhores. Ora, estamos no século 21, afinal de contas, quem estamos tentando enganar? apenas nós mesmos! isto é uma máfia, já faz parte do sistema, tudo se funde. a indústria cultural com sua midcult, masscult, cultura boa ou ruim, desde política, economia até artes contemporâneas, isso é capitalismo meus caros. Não estou dizendo que sou socialista, porém, quem fala mal de um ilústre e renomado filósofo, não sabe o que diz quando demontra um vasto e inesessante orgulho por ser capitalista!
Acordem para vida, e estudem mais, principalmente dona CLARA, por seus comentários absurdos e infundados, sem falar na confusão que a senhora teve com datas não é mesmo!? toda época tem seu pensador e seu filósofo...
e para terminar, redijo um ditado popular: "Quem ama o feio, bonito lhe parece!"